21/04/2025 11:34h - Rondônia - Geral

JBS é acusada de falhar na meta contra o desmatamento; pecuaristas de RO questionam promessa

Pecuaristas apontam entraves fundiários, burlas no rastreamento e dificuldades técnicas para cumprimento da promessa ambiental da maior empresa de carne do mundo - Foto: Divulgação

O The Guardian, jornal britânico independente, publicou matéria sobre o possível descumprimento de metas ambientais pela JBS, maior empresa de carne bovina do mundo, com destaque para declarações de produtores rurais de Rondônia. Segundo o periódico, a JBS comprometeu-se publicamente a eliminar o desmatamento em toda a sua cadeia de fornecimento na Amazônia até o fim de 2025. Contudo, pecuaristas de estados como Pará e Rondônia expressaram ceticismo sobre a viabilidade do compromisso, alegando que a meta é praticamente inalcançável nas condições atuais. Em Rondônia, produtores ouvidos pela reportagem argumentaram que persistem entraves fundiários e práticas informais que dificultam o rastreamento da origem dos animais. Um dos principais obstáculos apontados foi a chamada “lavagem de gado”, estratégia pela qual bois criados em áreas desmatadas são transferidos para propriedades regulares antes da venda, burlando os controles. Cristina Malcher, liderança do setor agropecuário, ressaltou que a falta de regularização fundiária torna impossível cumprir as exigências ambientais dentro do prazo anunciado: “Se você não sabe quem é o dono da terra, não tem como fazer regularização ambiental”, afirmou. No total, a reportagem reuniu depoimentos de mais de 35 pessoas ligadas à cadeia da pecuária, entre produtores e representantes sindicais. A maioria deles demonstrou descrença de que a JBS conseguirá atingir o objetivo. Um dos entrevistados declarou que “dizer que toda a carne será sem desmatamento? Impossível”. A JBS, por sua vez, negou que esteja em descumprimento com os compromissos públicos e argumentou que as críticas se baseiam em uma amostra pequena diante do total de mais de 40 mil fornecedores cadastrados. A empresa defendeu os investimentos feitos até o momento, como a criação de uma plataforma digital com blockchain para rastreamento das compras, a assistência técnica a produtores e a adoção de inteligência artificial para monitoramento ambiental. No Pará, a companhia participa de um programa de rastreamento por brincos eletrônicos em parceria com o governo estadual. A meta é controlar cerca de 26 milhões de cabeças de gado até 2026. O governador Helder Barbalho reconheceu os desafios da iniciativa, apontando que pequenos produtores ainda têm dificuldades para aderir ao modelo. Em Rondônia, embora não se tenha detalhado um programa específico com o governo local, os obstáculos relatados são semelhantes aos enfrentados no Pará, com resistência à adoção de tecnologias e falta de infraestrutura para o cumprimento das novas exigências de rastreabilidade. Ainda de acordo com o The Guardian, mesmo que os sistemas tecnológicos avancem, há dúvidas sobre a efetividade da fiscalização. Uma das brechas identificadas por especialistas é a possibilidade de o gado ser abatido em locais fora do circuito monitorado, o que dificultaria o rastreamento da carne. A JBS sustenta que está comprometida com a sustentabilidade e afirma que o combate ao desmatamento ilegal demanda cooperação entre empresas, governos e sociedade civil. No entanto, com o prazo se aproximando, produtores em estados como Rondônia demonstram pouca confiança de que a meta será cumprida de forma integral.

Fonte: Rondônia Dinâmica

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